quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Day 22

Eu, Ester e Ihouma.

2012. Seja Bem vindo. E em menos de 4 dias, meus olhos viram coisas que eu jamais pude imaginar. Comecando pela minha virada de ano. Fui parar na Agape de novo. Posso dizer que foi a experiencia mais dubia de todo a minha vida. Foi um misto de medo e admiracao. A todo o momento que o pastor pedia 5 minutos de oracao meu coracao disparava. Eles rezavam em voz alta, era como estar dentro da cabeca de Deus. Mas na hora dos canticos, eu me arrepiava inteira. E é por isso que eu convido voce a apertar o play do video ai de baixo, pra ter uma ideia do que é o Twi (lingua tribal de Gana) e sentir como eles cantam com emocao.
Passado o Ano Novo, que foi muito triste pra mim, pois queria muito ter estado com a minha familia e amigos, segunda de manha acordo com a Ester gritando, pra variar, que tinha uma louca no portao. Meio sonolenta ainda, levantei e fui ver o que estava acontecendo. Quando me deparei com uma silhueta raquitica, mais magra que todas as pessoas que eu já vi na minha vida inteira, com as roupas imundas, pés imundos, fedendo demais da conta. Me perguntou quem eu era, o que eu fazia aqui. Respondi e perguntei o mesmo. Ela disse que se chamava Patricia mas nao sabia o que estava acontecendo.
Me disseram para falar em frances com ela, pois ela é uma ex interna aqui da AIESEC, que veio da Costa do Marfim, e foi embora em Maio. Tentei falar com ela e nada. Ela disse que não se lembrava como falar frances.

Depois de muito custo, colocamos ela pra dentro de casa. Ela tinha que tomar uma banho. Dei um sabonete, shampoo, e uma blusa rosa que eu tinha, ela disse que amava rosa. As meninas deram calca, toalha entre outras coisas. Enquanto ela se despia, pude observar seu corpo, cheio de marcas. Marcas profundas, de agressao mesmo, parecia que ela tinha passado muito tempo amarrada. Com marcas de facada tambem .... a sua pele tava descascando. Uma coisa horrivel de ser ver nao conseguia passar muito tempo perto dela, por causa do cheiro. Enquanto a gente tomva conta dela e tentava descobrir o que tinha acontecido, o Derry estava desesperado tentando algum contato com a AIESEC da Costa do Marfim, o que foi em vão, visto que eles estão em guerra, então nem sempre encontra-se pessoas no escritorio.
Ela tomou banho, pediu comida. O tempo todo me perguntava porque eu estava sendo tao boa com ela. Perguntava tambem se ela tinha roubado alguma coisa minha. Quando disse que ela estava salva aqui, que nada de ruim ia acontecer com ela, ela me fez prometer isso. Foi uma das cenas mais triste de toda a minha vida.
Depois de tomar banho e comer, ela se sentou e eu fui coversar com o Derry sobre ela. Aqui na casa é cheio de planfletos pedindo para que tudo esteja sempre organizado e limpo. Foi ela quem fez. O Derry tambem me contou que ela ensinava frances para todo mundo que estava na casa. Que é muito inteligente, já tinha até terminado o mestrado. Impossivel acreditar que aquela pessoa que ele me contava era a mesma que tava sentado pedindo explicacoes de como ela tinha vindo parar aqui. Coisas que nem nós sabiamos.

Por fim que a levaram pro hospital, totalmente carregada e contra a sua vontade.
Fui ve-la a noite no hospital, e no dia seguinte. Terca-feira transferiram ela pra um hospital psiquiatrico. Aconteceu o seguinte: saindo daqui ela foi com um missionario pra Nigeria, lá o missionario alegou que ela foi possuida "por um espirito do mal"e por isso ele teve que amarra-la e castigá-la pelo mal comportamento, porque ela tentava fugir sempre. E ela conseguiu fugir, e tentou voltar pra Costa do Marfim, mas no meio do caminho em Togo, ela se perdeu, talvez tenha sido sequestrada, nao sabemos. Por fim, uma tia dela aqui de Gana, a achou e a acolheu, mas nao acreditava numa só palavra que ela dizia, resultando na revolta ainda maior na moca. Novamente ela fugiu ... e dessa vez ficou sumida por mais de 4 meses. A familia não quem mais saber dela. Tem um primo dela vindo buscar para interna-la em um outro hospital psiquiatrico na costa do marfim. O pessoal da AIESEC nos proibiu de ver ela. Aqui todo mundo realmente acredita no missionario e nao nela.
Isso é Africa.

A unica certeza que eu tive, é de que uma das coisas que eu quero lutar, é pelo direito das mulheres que são subjulgadas pelo mundo a fora. Essa historia me revoltou muito. Mas hoje em dia nao tenho os meios necessarios para poder ajuda-la. Futuramente, creio eu que terei, e assim sendo poderei evitar que outras Patricias sofram o mesmo que essa sofreu.

Que fique a dica para todo mundo que lê o blog repensar seus conceitos sobre direitos e deveres humanos. E tem gente aqui na casa que eu moro, que nem quis ir ver a pobre moca e se julga superior aos outros. Ninguem é melhor do que ninguem em nenhum lugar do planeta. E o mais triste é que a pessoa veio até aqui para poder tirar uma licao disso, e a unica coisa que ela vai conseguir é ser mais prepotente e egoista do que nunca.